O MEM e a Educação em Creche

por Sérgio Niza

Finalmente, no dia 14 de maio, através do zoom que serve o MEM, reunimos mais de quatro dezenas de educadoras que trabalham em creche.

Mal passara o susto das orientações erráticas da Secretaria de Estado da Ação Social,
seguiu-se a posição mais atenuada da autoridade central de saúde pública que a Direção
Geral de Saúde desempenha. Pedem-se planos de contingência, protocolos sociais de
prevenção e de distanciamento; dispositivos de desinfeção e impedimentos de
relacionamento social das crianças e de aproximação direta das famílias que não
facilitam o reencontro afável que merecem as crianças que voltam, isto é, que dão
continuidade a tantas coisas que juntos vivemos desde o início do ano letivo ou de há
mais tempo ainda.

Em conjunto compreendemos que, apesar das regras condicionadoras para prevenção
da doença, trata-se sobretudo de dar continuidade a um projeto educativo que é um
currículo da vida que vimos partilhando.

Entre os grupos de bebés/crianças e as respetivas profissionais de educação
(educadoras, auxiliares e outros) há que manter as mesmas fratrias e a função
mediadora da história daquelas vidas e da cultura que na creche socializa e faz crescer.
Interromper por muito mais tempo e falsear o encontro educativo seria confundir a
creche com o canil. Foi o médico de referência que é Gonçalo Cordeiro Ferreira, diretor
da área de pediatria médica do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, que,
em declaração ao Expresso de 9 de maio, avançou que “se a preocupação fosse apenas
de saúde, então as crianças continuariam confinadas”. E acrescentou ainda que “as
crianças não podem ficar separadas. […] Se assim for, corremos o risco das creches se
transformarem numa espécie de canil.”

O que educa, no âmbito da educação de infância de que falamos, é uma experiência de
vida prolongada onde as crianças aprendem umas com as outras e com os profissionais
de educação que delas cuidam quando, ao mediarem a sua formação, com elas se
formam também.

Nessa reunião virtual de dia 14 partilharam-se formas de organização preventiva da
doença, da insegurança e dos nossos medos defensivos com toda a autenticidade. Mas
procurámos sempre não fazer regredir as nossas práticas educativas que em comum
fomos construindo no MEM.

Nenhuma força infundada nos poderá roubar o cimento que consolida a nossa
identidade. Tal perda conduziria ao desmembramento de um património pedagógico
que desde há dezenas de anos nos fez trabalhar, por exemplo, na instituição das amas,
na sua formação e na formação das educadoras para sua supervisão.

Fez-nos, mais tarde, a partir do Centro Infantil de Olivais Sul e num número alargado de
outros centros infantis, aperfeiçoar e reumanizar as creches dos serviços de ação social
do Ministério do Trabalho e da Segurança Social bem como dos esforços pioneiros de
inclusão dos bebés surdos (18 meses) pela integração da língua gestual portuguesa no
Jardim de Infância de A-da-Beja com uma considerável equipa de profissionais de
educação do MEM.

Recorde-se, por fim, os avanços conseguidos na atualidade para contextualização da
atividade educativa em creche pelas educadoras e as/os docentes do Ensino Superior
que vêm refletindo e publicando os esforços teóricos orientados pelo modelo
pedagógico do MEM e pelos interlocutores que elegemos, no âmbito de uma perspetiva
sociocultural para a educação institucional.
As derivas dos próximos 10 dias da educação em creche fortalecerão o caminho que
escolhemos prosseguir, apoiados pelas nossas reuniões semanais à distância. Assim
ficaremos mais perto.
Sérgio Niza

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